O Xis do Clima
no Vale do Jequitinhonha
O Vale do Jequitinhonha sintetiza as contradições mais perversas do Antropoceno.
Epicentro do Calor Extremo
Das 20 cidades que mais aqueceram no Brasil, 18 estão no Vale.
Referente de Racismo Ambiental
Território de refúgio para povos indígenas e quilombolas que sofrem com a degradação.
Ícone de Injustiça Climática
Quem menos contribuiu para a crise arca com os custos mais altos.
Zona de Sacrifício do Lítio
O "Lithium Valley" é alvo de extrativismo predatório disfarçado de "mineração verde".

🌱 Reconstruir o futuro e reflorestar o Jequitinhonha da generosidade da Terra 🌸
NÃO SEREMOS REFUGIADOS CLIMÁTICOS!

🌵Na crise climática global, o semiárido mineiro e o Vale do Jequitinhonha em particular, se vê confrontado com desafios sem precedentes. As ondas de calor extremo, a seca e a escassez hídrica agravam a já previsível vulnerabilidade da região, ameaçando o modo de vida e a cultura de seu povo. Dezoito dentre as vinte cidades brasileiras que registraram os maiores aumentos de temperatura estão na região, atestando a gravidade da situação. Mas, em vez de sucumbir à desesperança, o povo do Jequitinhonha, povo remanescente dos quilombos e das aldeias ancestrais, se levanta com um grito de resistência e esperança: Não seremos refugiados climáticos! Mais do que um grito de alerta, trata-se de um chamado à ação.
🌴Ao dizermos que “Não seremos refugiados climáticos!”, carregamos de força e determinação aquilo que é nosso compromisso com a vida e com o futuro do Vale: a recusa em se deixar definir pela crise, e a aposta na capacidade de nossa gente se reinventar e reconstruir o território a partir das adversidades, aliás, como fez desde sempre. O Jequitinhonha, historicamente marcado pela injustiça socioambiental e vítima sem trégua do racismo ambiental, é antes de tudo, um símbolo de resistência e resiliência. A população que há séculos sobrevive à seca, à miséria e ao abandono, se mostrará capaz de se adaptar e de encontrar soluções criativas para os desafios impostos pela crise climática, sem que seja necessário abandonar a região e sem ceder à desertificação como único destino.

🌳Não seremos refugiados climáticos! é um convite para que todos se unam na luta por um futuro mais justo e sustentável que nos assegure que o Vale seguirá sempre vivo. É a afirmação de que, juntos, podemos construir um futuro onde a vida, a cultura e a justiça social floresçam no semiárido mineiro. Juntos, assumimos a missão de agitar o presente para que o futuro possa nascer das raízes profundas que regamos juntos. Essas raízes têm formas concretas e podemos chamá-las por seu próprio nome:
  • Agroecologia e segurança alimentar: A aposta na agroecologia e na produção de alimentos saudáveis, adaptados às condições do semiárido, garante a segurança alimentar e a autonomia das comunidades.
  • Preservação da água: A proteção das nascentes, a recuperação de áreas degradadas e o uso sustentável da água são essenciais para garantir a vida no semiárido.
  • Saberes tradicionais e adaptação: Os conhecimentos ancestrais sobre o clima, a terra e a água são ferramentas valiosas para a adaptação e a resiliência frente à crise climática.
  • Mobilização social e educação ambiental: A conscientização da população sobre a importância da ação climática e a participação ativa na construção de soluções para a crise são fundamentais.
  • Justiça climática: A reivindicação por políticas públicas que garantam a justiça climática e o apoio às comunidades mais vulneráveis é um imperativo.
🌷“Não seremos refugiados climáticos!” é a afirmação de um povo que se recusa a ser vítima da crise climática e que, para se adaptar e reduzir a vulnerabilidade, faz uma aposta na força da comunidade, na sabedoria ancestral e na capacidade de reinventar o futuro a partir das adversidades. É o grito de um povo que luta pela vida, pela cultura e pela justiça social e climática no semiárido mineiro e no resto do mundo inteiro, porque somos todos irmãos e habitamos a mesma casa comum. “Não seremos refugiados climáticos!”, principalmente, porque a Terra é generosa e ela nos ajudará a cada passo que dermos. Sejamos generosos cada dia um pouquinho mais, a fim de seguir merecendo, sempre e cada vez mais, a generosidade da Terra.

*Ricardo Targino, cineasta e ativista, cofundador da Mídia NINJA, realizador do Clímax Vale do Jequitinhonha, e mobilizador do Yékit Utópyco: resposta climática do Jequitinhonha.
Ciclos de Exploração no Vale do Jequitinhonha
Um território paradoxal: rico em recursos naturais e cultura, mas marcado por indicadores socioeconômicos dramaticamente baixos, secularmente e implacavelmente atacado pelo racismo ambiental.
Ciclo do Ouro e Diamantes (Séc. XVIII)
Estabeleceu o padrão de extração predatória. Deixou marcas profundas na paisagem e estrutura social.
Ciclo do Algodão e Pecuária (Séc. XIX)
Consolidou o sistema latifundiário. Aprofundou as desigualdades fundiárias na região.
Ciclo do Eucalipto (1970-1990)
Promovido durante a ditadura militar. Resultou em graves impactos ambientais e expulsão de comunidades tradicionais.
Ciclo do Lítio (Atual)
Concentrado em Araçuaí e Itinga. Representa a continuidade da lógica extrativista com nova roupagem "verde".
Desafios Climáticos no Vale do Jequitinhonha
Crise Climática Severa
Localizado no polígono da seca, o Vale enfrenta estiagens cada vez mais intensas e prolongadas.
Previsão alarmante: aumento de 2 a 4°C na temperatura média até 2050.
Ameaça de Desertificação
Desmatamento histórico e monocultura de eucalipto degradam rapidamente o solo fértil.
Comunidades rurais enfrentam crescente insegurança alimentar devido à perda de terras cultiváveis.
Escassez Hídrica
Rio Jequitinhonha, antes navegável, hoje apresenta trechos de vazão crítica.
Nascentes e pequenos cursos d'água, vitais para comunidades rurais, estão comprometidos.
Racismo Ambiental: Uma Realidade no Vale
O Vale do Jequitinhonha tem população majoritariamente negra (70-80%) e presença significativa de comunidades quilombolas. Estas populações enfrentam desigualdades estruturais profundas.
Conflitos Territoriais
Comunidades tradicionais lutam pelo reconhecimento de seus territórios ancestrais diariamente.
Riscos Ambientais
Exposição desproporcional à contaminação por agrotóxicos e poluição da água por mineradoras.
Serviços Básicos Precários
Municípios com maior população negra apresentam piores indicadores de saneamento, educação e saúde.
Esta distribuição desigual dos impactos ambientais negativos caracteriza o que Robert Bullard define como "racismo ambiental".
A Extraordinária Riqueza Cultural do Vale
Artesanato Reconhecido
Mestras ceramistas como Dona Izabel e Lira Marques elevaram o Vale ao reconhecimento internacional.
Tradição Musical
Rica expressão sonora através de toadas, cantigas de roda e modas de viola.
Festas Populares
Folia de Reis, Congado e festas de São João mantêm viva a identidade cultural.
Estas manifestações culturais representam mais que expressões estéticas. São conhecimentos ancestrais e formas de resistência das comunidades que preservaram suas tradições mesmo sob condições adversas.